This content is archived.
Discurso na Pontifícia Universidade Católica—
O Canadá no Século 21: Um Parceiro Confiável para o Brasil
Rio de Janeiro, Brasil, Quarta-feira, 25 de Abril de 2012
CONFERIR MEDIANTE CONCLUSÃO DO DISCURSO
Bom dia. Tudo bem? É um grande prazer estar aqui com vocês.
De fato, é um prazer estar aqui no Brasil e na Pontifícia Universidade Católica para falar sobre o forte relacionamento existente entre o Brasil e o Canadá.
Primeiro, vamos retroceder um pouco no tempo. Em Fevereiro de 2010 foi com orgulho que o Canadá sediou, em Vancouver, os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Inverno. Foi a culminação de anos de planejamento e de trabalho envolvendo milhares funcionários e de voluntários dedicados. O desempenho atlético, as histórias de garra e coragem, os sonhos realizados - essa foi a nossa experiência olímpica.
Quando terminou, havíamos aproveitado a oportunidade para mostrar o Canadá ao mundo e ficamos mais unidos como nação.
Em 2016 o Brasil terá a oportunidade de mostrar seus talentos e sua maestria ao sediar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Verão. E antes disso, em 2014, a Copa do Mundo será disputada no Brasil pela primeira vez desde 1950.
O fato de o Brasil sediar esses eventos diz muito sobre sua transformação no cenário mundial bem como sobre o respeito que usufrui entre as nações.
Eu sei que já estão sendo feitos planos para ambos os eventos e que o Canadá vai ajudar compartilhando seu conhecimento sobre o assunto. É gratificante saber que, ao nos prepararmos para essa tarefa monumental, podemos contar com o apoio de nossos amigos.
O acordo para compartilhar informações e experiência não apenas estreita os nossos já fortes laços como também oferece um excelente exemplo da diplomacia do conhecimento em ação.
Permitam-me explicar o que quero dizer com isso. Eu acredito muito na colaboração. Assim sendo, defino diplomacia do conhecimento como a capacidade e a disposição de trabalhar juntos e de compartilhar o que aprendemos entre diferentes disciplinas e fronteiras. Quando as pessoas atingem a mistura certa de criatividade, comunicação e cooperação podem acontecer coisas incríveis.
A colaboração entre o Canadá e o Brasil está florescendo, alimentada pelas mudanças advindas de um mundo cada vez mais globalizado. Não é de admirar - dadas as similaridades que existem entre nossos países e nossas histórias - que gravitemos um para o outro como parceiros naturais.
Os dois países têm populações indígenas vibrantes e sociedades multiculturais - uma diversidade que apresenta desafios mas que fortalece nossas sociedades. Somos países vastos, ricos em recursos naturais e com populações concentradas em certas regiões: vocês ao longo da costa e nós ao longo da fronteira sul. E compartilhamos uma história parecida de colonização: a nossa da França e da Inglaterra e a de vocês de Portugal.
Como o Brasil, o Canadá também está aumentando sua presença no palco mundial em setores como segurança internacional e negócios.
Estivemos envolvidos em missões lideradas pela OTAN em todo o globo, inclusive no Afeganistão e na Líbia, e oferecemos ajuda humanitária em crises como a do terremoto no Haiti.
E as empresas canadenses estão olhando para o futuro, testando novos mercados e levando novas ideias a países em todo o mundo.
De fato, um estudo recente da Statistics Canada mostrou que as empresas que entram em novos mercados, que vão além dos seus nichos de conforto e se expandem para outras comunidades, cidades e nações, tendem a melhorar sua produtividade. Em outras palavras, abordagens inovadoras geram ganhos significativos.
Mesmo no comércio, o Canadá, como o Brasil, está causando impacto com seus abundantes recursos e com a criatividade de seu povo.
Nos últimos cinco anos o comércio entre nossos países aumentou em mais de 40% - um sinal notável de sólidos laços econômicos. O que também me impressiona é o nosso comprometimento com o fortalecer dos laços de compartilhamento.
Não é nem preciso olhar além desta universidade que tem acordos com a Carleton University e com a University of Victoria. Tanto brasileiros como canadenses se beneficiam desse relacionamento.
Esse tipo de parceria - entre universidades - não é incomum. Em minhas viagens para a Ásia e para o Qatar e durante o período em que fui reitor e vice-chanceler da McGill University e como presidente da University of Waterloo testemunhei a diplomacia do conhecimento em ação. As universidades, a academia, os pesquisadores e os estudantes são os embaixadores ideais para nossos países. Essa troca de pessoas e de conhecimento gerou experiências e inovações impressionantes.
Tanto quanto a diplomacia acontece entre governos, também acontece entre povos. Não podemos perder isso de vista.
Sabemos que é esse o ímpeto que está por trás do programa brasileiro Ciência sem Fronteiras, que enviará 100.000 estudantes brasileiros ao estrangeiro para estudar nas melhores universidades do mundo. E foi por isso que tive tanto prazer em anunciar esta semana em Brasília que o Canadá receberá 12.000 estudantes brasileiros em universidades, faculdades e em programas de estágio no setor privado nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática.
Essa perspectiva me empolga muito. Estudantes internacionais levam ideias frescas, novas maneiras de pensar e a riqueza de sua bagagem com eles para onde quer que vão. Eu também fui estudante internacional quando estudei nos Estados Unidos e na Inglaterra e jamais esquecerei essa experiência. Minhas cinco filhas estudaram, estagiaram ou ensinaram em dez países diferentes.
Não me surpreenderia de um de meus netos escolhesse o Brasil daqui a alguns anos.
Espero também encorajar mais jovens canadenses a vir ao Brasil para estudar. Um dos motivos de minha visita ao país é participar do Congresso das Américas sobre Educação Internacional. Falarei lá amanhã e vou enfatizar a importância da educação internacional. Discorrerei também sobre as excelentes escolas e sobre a experiência de aprendizado que o Canadá tem a oferecer.
Ao apoiarmos iniciativas como Ciência Sem Fronteiras temos de lembrarmos de que estamos forjando laços através de nossos estudantes e futuros líderes. São eles que liderarão o Brasil e o Canadá de amanhã e, espero, o farão com olhos voltados para a colaboração.
Não é mera coincidência escolas canadenses quererem aumentar suas ligações com o Brasil. Os dois países estão comprometidos com incentivar a educação e a inovação.
A evolução do sistema educacional brasileiro é fascinante. Nos últimos 15 anos mais ou menos, vocês não só identificaram os problemas enfrentados pela educação como também ativamente promoveram as mudanças que beneficiaram a juventude do país.
O estado do Ceará é um excelente exemplo disso. Há apenas uma década o estado tinha sérios pontos fracos no sistema educacional, incluindo baixa frequência. Os brasileiros trabalharam arduamente para resolver esses desafios com programas e iniciativas inovadoras. Dois desses programas receberam elogios internacionais: o Bolsa Família, uma ajuda financeira condicionada à frequência mínima de crianças em idade escolar e o programa Merenda Escolar que alimenta incríveis 47 milhões de crianças todos os dias.
A eficácia desses programas é inegável. O Ceará saiu da última posição entre os 27 estados para a décima quarta na classificação nacional.
Assim como muito do que está relacionado ao aprendizado e ao conhecimento, um aspecto do sucesso está relacionado a outro. O caso do Ceará salienta o valor de se "ver o quadro inteiro" na elaboração de uma estratégia educacional.
Nosso desafio é simplesmente o seguinte: buscar e desenvolver redes de pessoas dentro de nossas escolas, comunidades, países e além, que juntas possam ajudar a transformar este mundo num mundo melhor e mais inteligente.
O que me empolgou ver, no entanto, foram algumas das maneiras de o Brasil realizar isso. Vocês foram inovadores. Vocês foram persistentes. Não desistiram. E agora as crianças têm um futuro muito mais brilhante diante de si. E o Brasil também.
O que mais me impressionou foi como vocês usaram o compartilhamento de conhecimento para melhorar a situação do Ceará.
As escolas que conseguiram estabelecer novos padrões, as que atingiram e ultrapassaram as metas estabelecidas pelo Ministério da Educação atuaram como mentoras das que tiveram dificuldades em fazê-lo. Os professores compartilharam suas técnicas e os estudantes bem-sucedidos compartilharam o que aprenderam. E desta forma as escolas do estado se tornaram melhores.
Ainda há muito a ser feito não apenas em seu país mas no nosso também. Os dois países têm a responsabilidade para com suas populações de prover não apenas educação, mas educação de qualidade. Temos a responsabilidade, perante nossas crianças, de lhes darmos condições de serem bem-sucedidas em suas comunidades, em seu país e no mundo.
O conhecimento não é algo a ser protegido. Não entre nações, não entre pessoas. Um Brasil bem-sucedido, forte e vibrante é bom para o Canadá e para o mundo assim como o sucesso do Canadá melhorará o Brasil.
Como disse Michael Fullan, um dos arquitetos da elevação dos índices escolares da província de Ontário: "Todo o país que melhora a educação se torna um vizinho melhor. O imperativo moral da educação é o avanço do mundo inteiro."
Todos vocês aqui entendem isso, e é por esse motivo que o Brasil tem expectativas tão altas em relação ao seu sistema educacional. Eu incentivo estudantes canadenses a estudar aqui para eles mesmos descobrirem essa dedicação.
Como já mencionei, também admiro o uso que o Brasil faz da inovação no seu sistema educacional. Tanto o Brasil como o Canadá sabem como isso é importante.
O Canadá é a sede de muitos inovadores. Alguns já descobriram o Brasil e estão investindo no futuro deste país. Outros começaram agora a se expandir para outros países. Muitos de nós estamos trabalhando juntos.
Considere, por exemplo, a Canadian Digital Media Network que, nestes últimos dias, sediou a conferência Canadá 3.0 em Stratford, Ontário. Usando o que há de mais moderno em termos de tecnologia eu falei à conferência virtualmente, daqui do Brasil.
A Network envolve muitos parceiros e apoia a ideia de que num país como o Canadá é vital que nos conectemos para criarmos possibilidades para o pensamento criativo e novas formas de comunicação. Os participantes da conferência, que vieram de todos os cantos do mundo, discutiram como podemos fazer isso juntos.
A próxima conferência 3.0 acontecerá aqui no Brasil porque, como sabemos, nos comunicarmos globalmente é tão importante quanto nos comunicarmos localmente.
O Brasil sabe que o seu futuro está na habilidade de ser inovador na educação, na ciência e em outras áreas da sociedade. Aqui, no Rio de Janeiro, vemos o quanto a inovação pode ser bem-sucedida. Por isso muitas empresas importantes estão interessadas em investir pesadamente na área porque veem o potencial a ser realizado aqui todos os dias.
Percebo que os serviços municipais estão usando abordagens inovadoras; que o prefeito do Rio de Janeiro introduziu novas tecnologias para trabalhar com mais inteligência na melhoria das condições de vida dos cidadãos. Esse tipo de pensamento original é típico do Brasil e um dos motivos pelos quais o Canadá quer tanto estreitar seus laços com o país.
Em virtude do respeito mútuo entre os dois países acredito que o Comitê Brasil-Canadá para Cooperação em Ciência, Tecnologia e Inovação descobrirá novas maneiras de trabalharmos juntos. Os membros desse comitê representam o que há de melhor em nossos países. É muito difícil visualizar um resultado que não seja construtivo.
A diplomacia do conhecimento funciona melhor quando há o comprometimento total com os ideais de um mundo melhor, mais inteligente e mais humano.
Brasil e Canadá compartilham ainda outra similaridade. Os dois são países relativamente novos. Em 2017 o Canadá comemorará o seu 150º aniversário e o Brasil, em 2022, o seu 200º. Daqui até lá, nos próximos 5 a 10 anos, o que podemos fazer para melhorar nossas nações? Como podemos trabalhar conjuntamente para atingir nossas metas educacionais e de inovação? Qual será o nosso presente para o resto do mundo nesse meio tempo?
O trabalho começa com a diplomacia do conhecimento que colocamos em prática todos os dias. Porém, subjacente a esse fato, há o respeito que o Brasil e o Canadá têm um pelo outro.
De uns tempos para cá vocês têm trabalhado incansavelmente para mostrar ao mundo do que são capazes e isso já foi notado por outros países. A atenção do mundo está voltada para o Brasil e ela se intensificará à medida que mais países perceberem o valor que a sua sociedade agrega ao mundo em sentido econômico, científico e social.
Quando o Brasil venceu a proposta para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 o presidente Luis Inácio Lula da Silva disse: “Hoje é o dia em que o Brasil ganha cidadania internacional ... Hoje conquistamos respeito. O mundo reconheceu que agora é o momento do Brasil. Provamos ao mundo que também somos cidadãos.”
Não tenho dúvidas de que o Brasil estará pronto para dar boas vindas ao mundo em 2016 e tenho orgulho de o Canadá poder ajudá-los compartilhando tudo o que aprendeu.
Os canadenses sempre respeitaram a dedicação dos brasileiros e admiramos seu compromisso com a educação, ciência e inovação.
Espero que o Canadá e o Brasil estreitem e fortaleçam seus laços como parceiros de confiança. A próxima década certamente trará mais desafios e maiores oportunidades. Vamos encará-los de frente, juntos.
