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Discurso por ocasião da visita oficial à República Federativa do Brasil, Brasília, quarta-feira, 11 de julho de 2007
Esta não é a primeira vez que venho ao Brasil.
Em junho de 1992, eu estava no Rio quando foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.
Eu ali estava na qualidade de jornalista da televisão pública do Canadá e eu acompanhava com intensidade o engajamento de mulheres e homens que militavam em favor da proteção da biodiversidade no mundo.
Eu julgava não somente oportuna, mas também totalmente inspirada, a organização de tal conferência em um país onde as florestas da Amazônia representam um hino à vitalidade biológica e constituem o “pulmão verde” da humanidade.
Para mim, o Brasil se tornou naquele momento um local de encontro internacional em favor da vida sob todas as formas.
Esse grito de união em prol da vida que foi dado aqui e que foi ouvido pelo mundo inteiro ficou, para mim, indissociável do Brasil.
Assim, Senhor Presidente, constato com alegria que a esperança que senti há 15 anos, espalhou-se em todos os setores da sociedade brasileira.
De fato, sinto que o tempo chegou para que o Brasil realize seu pleno potencial, tão rico e promissor quanto essa natureza prodigiosa que o envolve.
Estou orgulhosa de medir todos os avanços realizados pelo povo brasileiro nesses últimos anos para que o Brasil tenha um lugar de prestígio no cenário mundial.
E se estou aqui hoje, é para expressar a amizade do povo canadense que vê com admiração a vitalidade democrática que se manifesta no Brasil e que incentiva tão notáveis realizações.
Apoiamos sem reservas, Senhor Presidente, a sua vontade de combinar estabilidade econômica com política de inclusão social e nós o parabenizamos por isso.
Como o senhor bem disse, “onde há fome, não há esperança”. E “a fome alimenta a violência e o fanatismo”.
Sua iniciativa “Fome Zero”, que garante uma renda básica para mais de 11 milhões de famílias brasileiras, é exemplar.
Acreditamos, como o senhor, que as populações, que têm recursos para se alimentar bem, têm saúde e acesso ao saber, criam sociedades responsáveis.
Acreditamos que a liberdade de expressão, a primazia do direito e o respeito dos direitos da pessoa são terras férteis para a prosperidade.
Nós nos alegramos com a vitalidade das relações comerciais entre os nossos dois países. Dentre os países das Américas do Sul e Central, o Brasil é o maior investidor no Canadá.
E o Canadá pretende dobrar as relações comerciais entre os dois países até 2012.
O sucesso do Brasil no setor comercial é notável e só fez aumentar nos últimos anos. Seu país é o motor da economia sul-americana.
As Américas e o mundo vêem neste país um modelo de desenvolvimento.
Para tantas mulheres, homens e jovens, o Brasil representa essa real possibilidade de viver melhor numa sociedade justa, igualitária e pacífica.
O Brasil reflete hoje essa esperança.
É precisamente essa esperança a que eu vim saudar e comemorar em nome da população canadense.
O Brasil e o Canadá são parceiros em diversas organizações internacionais, notadamente a OMC, a OEA e a UNESCO.
Mencionarei também o trabalho que fazemos juntamente com outros nove países da América Central e do Sul para ajudar nossos irmãos e irmãs do Haiti a sair do círculo pernicioso da miséria e da violência.
Nasci no Haiti, de onde minha família teve que fugir para escapar do impiedoso regime de terror de François Duvalier.
Sei o que significa poder viver em um país como o Canadá onde tudo é possível quando se tem boa vontade.
Espero de todo coração que esse movimento de solidariedade para com o povo haitiano seja recebido pelo mundo inteiro como um testemunho dos laços que unem os povos das Américas.
Vejo também um dever ético, que honra o seu país e os outros participantes, e que enriquece nosso sentimento de humanidade.
Permita-me endossar suas palavras, Senhor Presidente, não podemos cometer “o erro de ignorar o grito terrível dos excluídos”.
“Aos pobres, o senhor diz, é preciso dar razões de viver e não de matar ou morrer”.
Que suas palavras sejam uma fonte de inspiração para todos nós, das Américas, e para os demais povos do mundo.
Que os jovens que caminham hoje seguindo nossos passos, as escutem e meditem.
Sei que o Brasil é um país rico em juventude.
Nestes últimos dias, encontrei-me com jovens compromissados com suas comunidades e na Universidade da Bahia.
Na verdade, na delegação que está me acompanhando nesta Visita de Estado, há jovens que estão não apenas compromissados com a promoção da justiça social como também interessados em ampliar seu campo de ação.
Atualmente, existem 12.000 estudantes brasileiros no Canadá.
São tantos os novos laços de amizade que unem os jovens de nossos países e que vêm para fortalecer a nossa proveitosa colaboração.
E jovens de todos os lugares das Américas encontram-se no Brasil para participar dos Jogos Pan-americanos.
O Canadá agradece a acolhida de tão grande número de jovens e a possibilidade que eles terão de viverem juntos uma experiência que ficará para sempre gravada em suas memórias.
Acredito firmemente que a memória é esta coisa intangível e preciosa que ilumina o futuro.
E a memória da mulher que está diante do senhor tem raízes profundas no continente africano.
Tive o imenso privilégio de explorar essa herança dos meus antepassados quando fiz uma viagem de Estado a cinco países da África em novembro e dezembro do ano passado.
Sei que o Brasil é o país que tem a maior população africana, fora da África.
Dos quinze milhões de africanos que atravessaram o Atlântico, nos porões dos navios negreiros, três milhões e meio desembarcaram no Brasil.
Nas plantações de açúcar, de tabaco, de algodão e nas minas, os escravos se esforçaram para perpetuar suas tradições.
É agora uma herança que faz parte da identidade coletiva, e eu ousaria dizer, cativante do Brasil.
Dessas raízes africanas subiu uma seiva única que corre agora nas veias do Brasil.
Vi mostras emocionantes disso em todos os lugares que visitei, em particular, em Salvador, onde comecei esta viagem.
Nestes últimos dias, testemunhei em Salvador o trabalho que ONGs realizam no espírito de solidariedade e na tentativa de combater a exclusão social.
Em São Paulo, capital econômica do país, elogiei a vitalidade de nossas relações comerciais e o espírito empresarial da Câmara de Comércio Brasil-Canadá.
Eu disse a eles que a determinação dos investidores brasileiros no Canadá deve ser fonte de inspiração para nós.
Além disso, meu marido, Jean-Daniel Lafond, cineasta, reuniu artistas, produtores e criadores, tanto do Brasil quanto do Canadá, para discutir o impacto de novas tecnologias no meio audiovisual.
No Rio, terei o prazer de participar da abertura oficial dos Jogos Pan-Americanos. Também reservarei um tempo para me encontrar com ONGs que fazem um trabalho extraordinário no sentido de mobilizar a juventude de certa forma tragada pelas ruas.
Senhor Presidente, eu estava muito ansiosa para encontrá-lo em Brasília para compartilhar minhas percepções em relação ao Brasil e ver novamente o homem que conheci há 12 anos quando eu ainda era uma jornalista. Um homem que agora está à frente de um país que está se tornando uma das grandes potências do século XXI.
Gostaria de finalizar com uma frase de uma escritora brasileira que capta bem, a meu ver, a abrangência e a profundidade das convicções que o Brasil e o Canadá compartilham sem concessão.
Lya Luft escreveu: “A idéia de que a vida é um bem, e que merecemos liberdade e felicidade, se transmite acreditando nisso”.
Nós acreditamos, Senhor Presidente, e o apoiamos nesta convicção.
Obrigada.
